Após a visita ao encantador Miradouro da Lua (ao pôr do sol a paisagem chega a ser divina e dizem que nas noites enluaradas então... !) fomos em direção à praia de Cabo Ledo (ver crônica anterior), já na província do Bengo. A rodovia é razoavelmente bem conservada e em alguns trechos existem ainda sucatas de tanques militares, utilizados nas duas guerras que o país enfrentou em 45 anos. Primeiro, a de libertação contra o colonialismo português (terminou em 1975, com a independência) e, em seguida, a guerra civil que estraçalhou o país recém-instalado e que só terminou em 2002. Deixou Angola em frangalhos, com profundas e graves feridas, das quais o país ainda tenta se recompor a duras penas, obviamente.
Após um praça de pedágio - afinal estávamos numa das rodovias melhor conservadas de um país que teve toda a malha de transporte do país danificada pelos conflitos; o Brasil sem conflitos (aparentes) e muito mais riquezas possui estradas péssimas ! - passamos por uma ponte metálica sobre uma área de manguezal do Kwanza, o maior rio do país e que dá nome à moeda de Angola. Embaixo, alguns pescadores em suas canoas margeavam a vegetação verdejante do rio compondo assim uma bucólica paisagem. Dos trechos mais altos da estrada vê-se, vez em quando, a imponência do Atlântico se espraiando nas partes baixas da costa. À esquerda, savanas, muitas savanas !. Estávamos nas imediações de uma das maiores unidades de conservação de Angola, o Parque Nacional do Quissama, com quase 10 mil quilômetros quadrados de extensão. Prometemo-nos programar uma visita, passar um fim de semana inteiro num dos bangalôs para aluguel, onde poderemos dormir e sair antes do nascer do sol, que é o melhor horário para um safari (sem direito à caça, claro)
Pretendemos ver, o mais de perto possível, alguns exemplares da rica fauna africana. Até abril, quando termina a estação chuvosa, teremos de ir lá. Nessa época as margens dos rios ficam repletas de aves aquáticas como flamingos, garças, patos e pelicanos. No parque podem ser encontrados , ainda em estado selvagem, elefantes, girafas, zebras, gnus, avestruzes e diversas espécies de antílopes, como a palanca-vermelha e o manatim, além de tartarugas-marinhas. Se bem que, muitos parques angolanos foram tendo ao longo dos anos diversas espécies dizimadas pela "caça furtiva". A matança se intensificou durante a guerra, quando várias esp´´ecies eram abatidos para alimentação das tropas, de um e do outro lado. O Parque do Quissama mesmo foi um dos que teve parte de sua fauna repovoada. Nelson Mandela, quando governante da África do Sul, doou espécimes de girafas e elefantes, entre outros animais, para Angola.
Mas o destino daquele passeio ainda não era o Parque do Quissama e sim a Praia de Sangano, pouco antes de Cabo Ledo. De longe, já tínhamos uma idéia do sítio que nos aguadava ...
Praia de Sangano ( Foto JR)
O local tem uma infra-estrutrura mínima, mas necessária (bar/restaurante), e alguns “chapéus”, na verdade sombreiros gigantes cobertos de palha de sapê, onde podem se acomodar até dez pessoas e cujo aluguel vem cobrado na conta. Ao chegarmos, todos os “chapéus” estavam ocupados e ao indagarmos sobre como conseguir um, o rapaz do bar indagou: "E vocês não trouxeram sombra ?" (referindo-se a sombreiros pessoais).
Foto: JR
Sangano é uma praia aprazível, limpa, bonita e muito agradável. Contemplar sua bela paisagem natural, com a pouca interferencia do homem, põe-nos enlevados, em sossego e clima de elevação mental.
Fotos: JR
Após algumas horas ao sol, mergulhos ocasionais, um bate-bola, alguma conversa jogada fora e muita cerveja jogada dentro … chegou a hora do almoço !. No restaurante de ambiente rústico, aguardamos uma tempãâão pela tão decantada panulirus regius, a lagosta real angolana.
Foto: JR
O serviço é muito lento, bem ao jeito angolano de ser, e lembrou-me de um certo lugar, porque a cada reclamação diziam "... é que o outro rapaz da cozinha não veio..."). Onde é que já ouvi esse papo de "a culpa é do rapaz... " ? Terá sido na Bahia ? (cartas para a Redação...). Mas enfim fomos compensados pela qualidade da lagosta à termidor .
Parecia até uma ingratidão para com a Natureza, deixar Sangano justamente nessa hora !
Foto: JR
Mas enfim, de volta para casa ainda pudemos nos deliciar com paisagens como ...
o sol se escondendo e o imbondeiro homenageando-o com seu talhe majestático
Família Feliz !
Brincadeiras à parte, eis a diferença entre a África de minha infância - aquela imageticamente criada, com cenários em estúdio imitando as selvas africanas - e essa parte dela em que piso (Angola é conhecida como "O Coração da África") hoje ! A realidade é muito diferente !.
Um comentário:
Hahahahahaha :) Fiquei imaginando vc, molequinho em Cachoeira - de suspensório, no cinema, vibrando com as peripécias de Tarzan na África "de mentirinha" em Hollywood! Lembrei também que, quando eu era pequenina e estava com vc admirando o mar, vc falava que se a gente nadasse ali em linha reta, ia parar na África!
Que passeio sensacional... dá uma inveja danada quando a gente lê essas crônicas hehehehehehe
Mil beijos,
Dd.
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