segunda-feira, 30 de julho de 2007

"Alguma coisa acontece, no meu coração ..."
Sangano, a última parada !



A montanha com suas escarpas parece querer abraçar o mar



O cenário escolhido para passar meu último domingo em Angola foi a praia de Sangano. Lugar que, para mim, simboliza a beleza desse litoral e das paisagens naturais de Angola.







"Onde a água do mar estava mais gelada que a cerveja ! "




Para chegar até essa beleza é necessário descer uma íngreme ladeira de terra.









Já passava de uma da tarde quando nosso grupo chegou. A paisagem que se descortinava do alto, quando a terra parece se encontrar abruptamente com o mar, era a praia vastíssima envolta por falésias. O mar, revolto e gelado, negava-se aos banhistas. Uma forte corrente dificultava a aproximação e mal dava para ficar na água, mesmo com ela à altura do joelho. Fortes ondas derrubavam e arrastavam quem se arriscasse.



Logo na descida um aviso aos navegantes !

Aparentemente (será ?) referia-se ao perigo dos carros atolarem na areia.




A criançada logo se acercou. Eram tantos "putos" e miúdas ...



Vizinha à praia, uma vila de pescadores. Esses acabavam de chegar de mais uma maratona.




As mulheres logo se aproximaram para limpar e tratar o produto da pescaria.
As jovens mães traziam seus rebentos às costas, no melhor estilo africano.





Desconfiadas e curiosas, aceitaram ser fotografadas mas ficaram tensas ...


Quando me aproximei cessaram os risos e conversas. E continuaram em sua faina


Junto às choupanas onde moram, montam jiraus para
secar ao sol o peixe tratado e salgado


A gurizada se acomodou espontaneamente em cima de um dos barcos.


Quando mostrei a foto, todos gritaram em uníssono:
"Olha eu, olha eu, olha eu..."


No retorno para casa, uma parada estratégica e indispensável no " Miradouro da Lua ". Do alto contemplamos o vasto Atlântico e as paredes montanhosas erodidas pelo vento, maresia, chuvas... que durante séculos, quiçá milênios, abrem saliências e reentrâncias,
expondo e devassando as entranhas da mãe-terra africana.
Eu só sei que ... "alguma coisa acontece, no meu coração! "


Lá, algo transcendental leva-nos à meditação.
Daí para a inspiração, é um "daqui a nada" como dizem os angolanos.

Cometi até um pecadilho literário. Justificável, é claro, pela beleza do lugar
e perfeitamente perdoável pelo sentimento que nos tomou.

"Não saberia dizer se foi a paisagem
que justo na retina se incrustou
ou se foi a visão, quase miragem,
que num átimo o coração arrebatou"

Luanda, 30 julho 2007










quinta-feira, 26 de julho de 2007





Olhares sobre a cidade de Luanda (I)
Após quase um ano de permanência em Luanda permito-me apresentar algumas cenas que captei, ou foram captadas por amigos. A geografia da cidade, suas características, a questão imanente de sua identidade e aquilo que o cronista brasileiro João do Rio chamou um dia de
"a alma encantadora das ruas" são o que modestamente tentarei mostrar.





Na Avenida Marginal, orla belíssima mas degradada da capital,
contemplo a Ilha de Luanda, onde a cidade nasceu.
( Foto:agosto 2006)








Um ano depois contemplo a cidade, exatamente do ponto oposto.
(Foto: Julho 2007)




A Ilha (hoje transformada num istmo) e a cidade são separadas pela poluidíssima Baía de Luanda.





A Sé Velha, uma das igrejas mais antigas de Luanda.




Pequenas vendedoras em Mussulo

Cena infelizmente comum num país do terceiro mundo: crianças trabalhando.





No Largo da Independência, a estátua de Agostinho Neto, "fundador da nação angolana" e primeiro presidente do país.




Do mar, vindo de Mussulo, a visão que se tem desse monumento é belíssima. A história dele, porém ... daqui centenas de milhares de angolanos foram levados como escravos para a América durante mais de tres séculos. Esta foi a última imagem que eles levaram da África. Hoje o prédio abriga o Museu da Escravatura.


O pôr do sol em Mussulo. Encantamento é pouco...




A cidade é muito suja. Mas alguns avisos são essenciais ...



Ao fundo, a zona portuária.
Mas na Baía de Luanda ainda há quem saia para pescar.



Na Feira do Bemfica, belíssimos trabalhos artesanais.




Estatuetas expostas em Bemfica.





No Miramar, a visão da cidade.
Luanda, 26 de julho












quinta-feira, 19 de julho de 2007

Frescos, alembamento,
komba e sobas.
Algumas histórias e tradições.


Numa tarde eu seguia para a sede da União dos Escritores de Angola (UEA) quando deparei-me com este estabelecimento:





Pedi ao motorista para desacelerar e do carro mesmo captei a imagem. Não, não se trata da sede de um (impensável para os padrões daqui) GGA - Grupo Gay de Angola - como pensariam os mais afoitos mas de uma casa comercial especializada em frios. Tudo que chamamos "gelado" aqui recebe o nome de fresco. Lá dentro (epa !) funciona também um posto bancário. Além da Casa dos Frescos, aqui em Luanda vi também o bar/restaurante Cais de 4, a confeitaria A Baratinha, o açougue Casa do Talho, a barbearia Entra Feio e Sai Bonito, a loja de eletrodmésticos Escravos do Lazer e o salão Oh Vitinho ! título com que uma saudosa biba daqui homenageou o bofe, quando este se escafedeu.








Já estivera na sede da UEA para encontrar o escritor Luandino Vieira (ver post As Escolhas de Luandino neste blog). Desta vez fui falar com outro angolano, Fernando Maweze. Ele reside no Brasil há alguns anos e voltou à sua terra para lançar o seu mais novo livro “Histórias da Cultura Africana – Hábitos e Costumes”.

















Encontro-o no jardim e tão logo apresento-me demonstra uma enorme simpatia. Começa a falar quase sem parar das grandes semelhanças que vê entre Angola e Brasil e da afinidade que existe entre ambos embora, assim como eu, lamente o pouco intercâmbio e o nível pouco profundo das relações, notadamente na área cultural. Na semana seguinte ele voltaria ao Brasil para fazer o lançamento em alguns estados, inclusive na Bahia, “terra que admiro muitíssimo”. Fernando mora no Rio de Janeiro e já percorreu quase todos os estados brasileiros proferindo palestras e se apresentando como cantor de músicas gospel. Na saída ofereci uma boleia (carona) pois ele ia à casa de uma tia que não vê há muito tempo e cujo endereço ficava no meu trajeto. Agradecido, me presenteou com um CD em que gravou em kimbundu algumas músicas religiosas, dando um toque ritmicamente africano a essas canções.



Com Fernando Maweze, na sede da UEA.

O livro não possui um estilo rebuscado mas reúne o conhecimento sobre a cultura, hábitos e comportamentos do povo angolano, acumulado por ele desde a infância até a fase adulta, época em que se transferiu para o Brasil. Foi quando o seu país, logo após a sangrenta conquista da Independência, mergulhou numa fraticida guerra civil que só acabou há cinco anos. Fernando quase não pára de falar, tal seu entusiasmo em relatar as vivências familiares, as narrativas populares, lendas e histórias de seu povo. E como se orgulha de ser um contador de histórias (“sempre adorei e ainda criança ficava fascinado quando ouvia meus pais e tios contarem as lendas, falar dos costumes de minha gente”) !

Fernando descreve numa narrativa agradável e em certos pontos até bem humorada, algumas histórias baseadas em fatos reais, ligadas a aspectos da cultura popular angolana. Como, por exemplo, as relações parentais, em que se destaca a enorme influência dos tios na composição familiar. Eles são considerados aqui em Angola como de grande influência e autoridade, principalmente quando a crianças ou jovens não têm pai, por morte ou abandono.

Mergulho na leitura e fico sabendo um pouco mais da cultura dessa terra. Hábitos e costumes, herdados de geração em geração e que apesar de tudo ainda sobrevivem e resistem como valores tradicionais de Angola, instituições multiseculares.

Foram quase cinco séculos de presença dominante do branco europeu mas apesar da brutalidade da escravidão e do domíninio colonialista muitos desses valores continuam presentes de alguma forma na vida dos angolanos. Muitos desses hábitos, herdados da ancestralidade. Apenas citarei alguns nessa crônica, entremeados por imagens antigas de Luanda, ao tempo colonial.



Luanda no ínício do Século XX. (autor desconhecido)



O Alembamento

Num das histórias, Fernando cita o alembamento, uma prática tribal que sobrevive de alguma forma na sociedade angolana contemporânea. Consiste no conhecido dote. Quando um homem quer casar, ao apresentar o pedido à família da noiva, tem que cumprir o alembamento, uma lista de presentes que podem ser bois, cavalos ou mesmo animais domésticos, mantimentos etc. As tias da noiva recebem do noivo peças de pano, para fazerem as roupas do casório. Pode ser também em dinheiro e até comida e bebida. Num dicionário de angolês que encontrei, está: O alembamento, condição fundamental para tramitação do noivado, é tratado entre as famílias dos nubentes, mesmo não se tratando do primeiro matrimónio. As regras variam ligeiramente, de etnia para etnia mas, princípio universal, a família da noiva obriga-se a devolvê-lo caso não se verifique a consumação do casamento ou em caso de divórcio”. Existe até uma propaganda na TV de banco ou financeira, em que um jovem lê assustado a lista do “alembamento”. É tanta coisa e ele sem dinheiro… O locutor, com aquela voz típica de “SEUS PROBLEMAS ACABARAM”, informa que o alembamento pode ser financiado, a “juros módicos” é claro.






O Komba





Outro aspecto importante da cultura angolana é a sacralização da morte, mais do que em outras sociedades. Certa feita me dirigia à sede da Televisão Pública de Angola (TPA), onde daria aulas da Oficina de Produção de Pautas em Telejornalismo, quando deparo com um colossal engarrafamento, bem típico do caótico trânsito de Luanda. Para escapar dele, o motorista optou por vias transversais e bairros periféricos. Eram ruas sem calçamento, com muito lixo amontoado, lama e grandes buracos. Numa esquina, uma multidão aglomerava-se em frente a uma casa. Ele estancou e avisou: Óbito. E passou a dirigir bem devagar, em sinal de respeito. Na casa morrera alguém, o que fizera acorrer parentes, amigos, vizinhos e curiosos. Uma cena me intrigou: uma mulher, que poderia ser filha, irmã ou mulher do falecido, cantava em prantos na língua nativa kibundu (uma das muitas línguas nacionais) enquanto segurava algumas peças de roupas do defunto. Lembrei-me das verônicas nas procissões da Sexta-Feira da Paixão em Cachoeira. Ela brandia as peças, mostrando-as ao povo e com seu canto triste exprimia a dor da perda do parente. O motorista explicou que este é um dos muitos rituais que cercam o fenômeno da morte em Angola.

Outro, vi-o várias vezes, é o cortejo fúnebre. Por maior que seja o engarrafamento, os motoristas abrem preferência à passagem do carro conduzindo o caixão e dos outros veículos que o seguem, todos com faróis e o sinal de pisca-pisca ligado. Quando isso acontece os (poucos) guardas de transito existentes em Luanda abrem passagem ao cortejo. Quando não há guardas, são os próprios motoristas que tomam a iniciativa de dar preferência ao “óbito” e abrem caminho. A palavra óbito inclusive não é usada apenas como sinônimo de morte, mas também compreende todas as etapas do funeral e o aparato que cerca o falecimento de alguém, como o velório. Uma vez ouvi um diálogo entre duas funcionárias da empresa onde trabalho. Uma delas perguntou: O que fizeste no fim de semana ? A outra respondeu (para meu espanto):
Tive óbito !

O único jornal diário angolano publica cinco a seis páginas de anúncios fúnebres. Todos em tamanho padrão e com foto do falecido (aqui diz-se "indigitado"). As cerimônias fúnebres são chamadas de Komba. É uma solenidade fúnebre tradicional, que em alguns casos pode durar até 30 dias. Raramente enterra-se alguém aqui no dia seguinte à morte. São comuns sepultamentos ocorrem três, quatro dias e ate uma semana após o óbito. O corpo fica no Morgue enquanto parentes distantes são localizados e aguardados. A casa do falecido enche-se de amigos, vizinhos e parentes. Os mais abastados mandam comida e bebida, mesas e até cadeiras. Os parentes mais próximos do morto ficam até sem trabalhar, para participar do komba. Ficam em casa para receber a visita de pêsames de parentes, vizinhos, amigos e conhecidos. São servidas comidas e bebida, dia e noite, e mesmo sem o caráter festivo o clima é de confraternização. Enquanto o corpo fica no necrotério, a família recebe os pêsames em casa com mesa farta, armários e geladeira abastecida. O objetivo é nutrir o apego que o falecido ainda mantém aos vínculos materiais. Após o sepultamento o komba continua e no último dia celebra-se uma missa que visa romper o vínculo material do morto ao mundo dos vivos e encaminhá-lo ao seu descanso eterno.

É claro que muitos desses rituais não são realizados por quem não reúne condições e aí o velório é simples, sem komba. Mas é inegável que a morte tem um significado mais que especial para os angolanos.





Autoridades Tradicionais


Outra herança tribal muito valorizada em Angola é o peso das autoridades tradicionais. São, por exemplo, os sobas e reis, verdadeiramente reconhecidos como tal. Existem algumas centenas deles espalhados por todo o território nacional. Os sobados ou quimbos compreendem certos territórios delimitados, sob domínio desses chefes tribais, também chamados régulos ou regedores. O soba, em certas regiões, é escolhido pelo conselho de sobas; noutras a sucessão é matrilinear, sucedendo-lhe um sobrinho, filho de uma irmã. Os integrantes dessas tribos e seus descendentes tratam-se entre si como parentes e adotam nomes e apelidos ligados às suas origens. Todos devem respeito e obediência aos sobas e sua linhagem. E a autoridade deles pesa principalmente sobre os aspectos morais da conduta, mas podem inclusive aplicar punições, dirimir conflitos, etc. As autoridades tradicionais são reconhecidas como tal pelo Estado, possuem status institucional e o governo destina-lhe subsídios regularmente para a manutenção do sobado. Em alguns lugares são chamados de reis.



Grupo de sobas angolanos (fotografia do início do Sec. XX)


A Agência de Notícias Angop (Angola Press) publicou em 13 de Junho último a seguinte notícia:

"Noventa e oito sobas do município do Chongoroi, a 150 quilómetros da cidade de Benguela, receberam, nesta quinta-feira, 193 cabeças de gado bovino para o fomento da agro-pecuária na localidade.

Segundo o regedor municipal, Feliciano Kameia, caberá a cada autoridade tradicional, nesta primeira fase, duas cabeças de gado e, após dois anos, os beneficiários deverão devolver uma, para beneficiar sobas e séculos de outras regiões. Feliciano Kameia disse que a aquisição do gado insere-se no programa da Associação das Autoridades Tradicionais da província de Benguela, que projecta melhorar as condições básicas dos sobas e seculos na região.

Adiantou que em 2006, as autoridades tradicionais do mesmo município receberam motorizadas (motocicletas, em Angola e Portugal), com vista a facilitar os seus contactos com as populações. No município do Chongoroi estão controlados 98 autoridades tradicionais, entre regedores, sobas e régulos."


Casal de reis tribais (foto: dácada de 30 do Sec XX)

Outra notícia recente na mídia angolana:


Autoridades tradicionais debatem


sucessão do Reino da Baixa de Kassanje

Mais de cento e sessenta autoridades tradicionais das províncias da Lunda Norte e de Malanje vão reunir-se a partir de hoje (10) a 12 de Julho do corrente mês, num encontro inter provincial, visando analisar a problemática da legitimação da sucessão do Reino da Baixa de Kassanje.
A delegação da Lunda Norte já se encontra em Malanje, aguardando-se apenas pela chegada do vice-ministro da Administração do Território, Mota Liz, que vai orientar os trabalhos.
Da agenda de trabalhos consta a sucessão do rei da Baixa de Kassanje, assim como o dossier do rei Kulaxingo. Três candidatos concorrerão ao cargo de sucessão do falecido rei da Baixa de Kassanje, Kambamba Kulaxingo.




As autoridades tradicionais já eram cooptadas na época colonial


Com origens em épocas imemorias os sobas, sobetes, régulos, reis e regedeores constituem o extrato das formações primitivas dos reinos que deram origem ao país. Ao longo da história cumpriram diversos papéis, como na época da lendária Rainha Jinga, quando se uniram em torno dela para lutar contra o colonialismo português. Em outra fase da história angolana foram cúmplices da escravidão. Estimulados pelos europeus guerrearam entre si e ao conquistar a tribo inimiga, vendiam os prisioneiros como escravos. Muitos, já quando assumiam o papel de sobas se comprometiam a dar à Fazenda Real Portuguesa, todo ano, 100 escravos em sinal de vassalagem. Mais tarde, quando não havia mais inimigos a conquistar, vendiam gente de sua própria tribo e como as relações intratribais eram familiares…

Durante o colonialismo foram cooptados pela Metrópole Portuguesa para manter o status-quo. Poucos foram os que se rebelaram, tendo sido exemplarmente castigados. Na Independência, perfilaram-se entre os nacionalistas e na guerra civil foram respeitados e tiveram seus direitos preservados. Hoje com todo o peso do simbolismo, participam ativamente da reconstrução do país, aderindo em peso às campanhas cívicas, como a do alistamento eleitoral, e de caráter social, como o combate à SIDA (AIDS), etc.







São símbolos de Angola. De seu passado, de sua história e sua cultura.


Luanda, 20 julho ´2007






terça-feira, 3 de julho de 2007

São João em Angola


Comemoramos o São João aqui em Angola da forma mais parecida possível com o do Brasil, particularmente do Nordeste. Providenciamos um arraiá, com fogueira, casamento na roça, quadrilha, Rainha do Milho, bandeirolas coloridas, forró e comida típica: canjica, amendoim, bolos de aimpim, milho e batata doce, milho cozido, laranjas, etc.


O licor é que foi escasso. Tinha apenas um pouco, de maracujá, Made in Cachoeira. Tratei de economizar sorvendo - o, no copinho característico, bem devagar para que ele durasse a noite inteira.



Não tinha para todo mundo, apenas para alguns privilegiados


Alegria não faltou. Mas embora tivéssemos recriado um ambiente típico das festas juninas, a saudade estava em cada um de nós.

Mesmo vestidos à moda caipira, remendos nas roupas, rostos com bigodes e cavanhaques pintados com crayon - as mulheres com trancinhas, rostos pintados com a indefectível “pinta” nas bochechas e cabelos amarrados em trancinhas - ninguém escondia que faltava algo: estar no Brasil.


Ivana Carla, "Rainha do Milho", me caracterizou


Mas enfim… para superar a ausência da pátria amada (que vive tão "distraída, sem perceber que é subtraída em tenebrosas transações" ) tratamos de nos divertir. E a animação prolongou-se durante toda a festa. Teve muito forró e dançou-se bastante. As angolanas presentes se interessavam bastante pela natureza da festa e mesmo sem entender muita coisa, animadas caíram na dança.



Não faltou (é claro !) quem ensinasse alguns passos do forró




Com Flávia Carybé e Thiago


Após algumas horas de forró, chegou o momento que alguns temíamos: colocar rimos angolanos. Puxados por mim, alguns haviam deflagrado o “Movimento 100 % Forro”, campanha que visava tocar na festa somente músicas juninas. Mas a pressão de outros brasileiros foi mais forte.


Quando colocaram o ritmo “kuduru”, houve “cara feia” e “muxoxos”.

Mas é inegável que a própria animação triplicou e a pista de dança foi tomada. Rendemo-nos às evidências, claro, e todos dançaram. O ritmo alucinante do KUDURU e o frenesi causado pela TARRACHINHA dominaram a noite daí em diante. Ambos são dançados de forma altamente erotizada.

Digo mesmo que a tarrachinha é de causar “complexo de inferioridade” às pessoas que dançam “na boquinha da garrafa”, tal a carga de lascividade que traz consigo.





Moralismos bestas à parte, é uma bela coreografia


Teve gente que se esbaldou. Afinal,"São João só presta, puxando fogo"

Mas apesar de ter sido uma bonita festa foi inevitável sentir saudades da família, do São João em Cachoeira, da festa em Sambaíba (lá na divisa Bahia/Sergipe), dos amigos, de mais licor, de fogos e balões… mas enfim, recorrendo a uma imagem carnavalesca da Bahia, o São João “para o ano sai mió”. Pois estarei no Brasil…

Um abraço !

Luanda, junho de 2007